2 de mai. de 2023

Rony Meisler
Quando a vida e suas coisas parecerem não fazer sentido, você tem que acreditar em alguma coisa e saber que vai entender o porquê de ter passado por tudo aquilo no futuro.
Meu sogro me contou uma emocionante história, que ele ouviu de um rabino. Há 30 anos uma senhora polonesa entrou tarde da noite em seu apartamento na Polônia e ao sentir o cheiro de gás forte acordou seus filhos e marido e os retirou do apartamento evitando assim uma tragédia. Essa história se tornou pública e saiu em todos os jornais da época.
Passaram-se 20 anos e a história se repetiu, desta vez com final trágico. Uma outra senhora entrou tarde da noite em seu apartamento em Israel, sentiu cheiro forte de gás e como as luzes estavam apagadas e ela nada enxergava, resolveu acender uma vela. Ao riscar o fósforo, uma enorme explosão levou a óbito ela, toda a família e boa parte do prédio onde morava. Uma gigantesca tragédia.
Uma jornalista resolveu escrever um artigo conectando as duas histórias e procurou a senhora polonesa para uma entrevista por telefone. Do outro lado da linha uma amável senhora atendeu e começou a contar como foi aquele dia: “Entrei em meu apartamento onde meu esposo e filhos dormiam e senti o cheiro de gás. O meu olfato me fez os acordar e tirar de casa.
Nunca tinha contado nada para ninguém até agora, mas a verdade é que eu nasci cega. Se eu enxergasse teria percebido que estava escuro e, assim como esta pobre senhora, teria tentado acender uma vela e não estaria aqui para contar essa história.
A minha falta de visão, aquilo pelo que me lamentei e questionei a Deus por toda uma vida, foi o que nos salvou.”
A história do meu sogro me emocionou profundamente e para mim foi impossível não conectá-la com um histórico discurso do Steve Jobs.
Em 12 de junho de 2005, Steve foi convidado para ser paraninfo de uma turma que se formava na universidade de Stanford. Steve traduziu de maneira cristalina a lição da emocionante história que meu sogro contou.
Em seu discurso (neste link: bit.ly/3LRg3P3), dentre muitas histórias, ele conta uma fantástica sobre “conectar os pontos”. Narra a história da sua vida contando ter sido adotado assim que nasceu e que o critério de escolha de sua mãe biológica foi o fato da promessa de que os pais adotivos pagariam por sua educação superior.
A promessa foi entregue e ele optou por ingressar na Reed College, onde odiava as aulas e se sentia mal ao não frequentá-las porque seus pais gastavam todas as economias para ele estudar.
Entretanto, por outro lado, o tempo livre permitiu que ele se dedicasse a um curso de caligrafia, que a faculdade oferecia (e não fazia parte do curriculum que cursava). O conhecimento de design, adquirido pelas técnicas de caligrafia, acabou 10 anos mais tarde sendo base para o design do primeiro computador Apple, e depois, segundo Steve, pelo fato de a Microsoft ter basicamente copiado o sistema operacional da Apple, também foi base para todos os outros computadores do mundo.
O mundo computacional não seria o que é se não fosse o seu desinteresse pela faculdade e o interesse pelas aulas de caligrafia.
Steve usa esse exemplo para concluir que você não consegue conectar os fatos olhando para frente. Você só os conecta quando olha para trás.
Então, quando a vida e suas coisas parecerem não fazer sentido, você tem que acreditar em alguma coisa - sua garra, destino, vida, karma ou o que quer que seja - e saber que vai entender o porquê de ter passado por tudo aquilo no futuro.
Vivemos tempos de incerteza no país. Aumento do desemprego, incertezas jurídicas, taxas de juros altas e, por consequência, instabilidade na vida e nos negócios de todos nós.
Tudo o que nos aflige pode nos levar a decisões, convicções e atitudes precipitadas quando nos colocamos em uma postura pessimista e (ou) com vitimismo, enxergando problemas como “injustiças” ou como fardos, ao invés de como oportunidades para mudanças e aprendizados.
O diálogo com meu sogro, o discurso de Steve, Ana Vilela em sua linda música e a poesia de Carlos Drummond de Andrade nos ensinam que: “A vida é trem bala” e “Não é sobre chegar no topo do mundo e saber que venceu. É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu.” E assim, lá na frente, porque “no meio do caminho tinha uma pedra e tinha uma pedra no meio do caminho”, “conectando pontos”, tudo fará sentido. Até mesmo a “cegueira” do mundo contemporâneo.
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