Em julho de 2013, assisti no “Fantástico” uma entrevista com o recém-empossado papa Francisco. Foi amor à primeira vista. Aquele senhor ganhou meu coração, logo na primeira pergunta da jornalista.

A igreja naquele momento passava por uma grande crise de identidade, que levava à uma enorme perda de fiéis e ela perguntou o que ele planejava fazer para resolver o problema. O papa sorriu e respondeu: “Fé e peregrinação”.

Sou fã de pessoas providas da capacidade de síntese. De falar muito com poucas palavras. É algo que me provoca assumida inveja intelectual. E naquele dia, o papa Francisco causou inveja intelectual no judeu que aqui vos escreve.

E deu uma enorme lição: se você acredita com muita força em algo e sair em peregrinação falando sobre isso às pessoas, provavelmente vai atrair multidões.

Peço desculpas ao papa Francisco, para traçar aqui o paralelo de sua fala com a tese do livro “O Jogo Infinito” (Ed. Sextante) escrito pelo autor e professor Simon Sinek.

Os jogos finitos são aqueles onde os jogadores são conhecidos e quando o objetivo determinado é alcançado, o jogo termina. Jogos esportivos como o futebol, por exemplo, são jogos finitos.

Já os jogos infinitos são aqueles onde existem jogadores conhecidos e desconhecidos, não existem regras precisas e nem linha de chegada, então não é possível vencer e, sim, apenas permanecer jogando. O casamento, a família, as amizades e a educação são bons exemplos de jogos infinitos.

A maior parte das empresas se considera jogando um jogo finito. O jogo dos resultados trimestrais e anuais. O jogo movido pelo placar dos resultados financeiros e dos bônus para seus executivos.

Por outro lado, há empresas que, movidas por um propósito maior, são engajadas na missão de melhorar a vida das pessoas, a reboque de seus negócios. Elas entendem que não concorrem com os outros e sim com elas próprias. E que o jogo não termina em três meses. É infinito.

As empresas finitas são lideradas por líderes finitos, que focam apenas nos resultados de curto prazo e estão mais interessados em seus bônus do que em inovar.

Já as empresas infinitas, lideradas por líderes infinitos, entendem que precisam transformar para melhor a vida das pessoas e, assim, focam em pensar e mudar a forma como as coisas são feitas.

São as empresas infinitas que mudam o mundo. Por consequência, acabam sendo as que têm maior valor de mercado, pois são amadas pelas pessoas que as prestigiam.

Você deve estar se perguntando porque este maluco que aqui escreve está misturando a frase do papa Francisco com a tese da infinitude do Simon Sinek.

Estudos mostram que, quanto mais as pessoas são capazes de enxergar seus sonhos, maior a probabilidade de realizá-los.

Movido pela visão maior, o líder infinito desce na estrutura organizacional escutando as pessoas e falando sobre o propósito e, em seguida, sobe, colocando em prática tudo aquilo que aprendeu e carregando consigo missionários daquela visão.

O livro do Sinek foi escrito em 2020, sete anos depois da entrevista do Papa que eu assisti no “Fantástico”. Como bom jesuíta, argentino e raçudo, muito antes do conceituado professor americano, papa Francisco soube não com um livro inteiro, mas com apenas duas palavras - fé e peregrinação - nos dar uma valiosíssima lição: o ser humano, muito mais do que pelo dinheiro, quando movido por seus sonhos e ideais, se torna infinito.

Por isso, um líder infinito, movido pelo propósito de construir algo melhor para o mundo e as pessoas, é capaz de arrastar multidões, não apenas de colaboradores, consumidores e fornecedores. Mas de reais missionários de sua causa.

Amén.