10 de jan. de 2023

Rony Meisler
Escrevo esse texto no dia 8 de Janeiro de 2023. Dia em que milhares de vândalos criminosos invadiram o Planalto, o Congresso e o STF, saqueando e quebrando tudo o que encontraram. O argumento: a negação da eleição de Lula como presidente. O objetivo: uma intervenção militar para tirar Lula do poder.
Antes disso acontecer eu tinha um artigo já pronto para enviar ao jornal, mas a seriedade dos fatos me obrigaram a mudar os planos. Esta coluna se dedica a falar todos os meses sobre liderança, empreendedorismo e gestão. Portanto, para o texto do dia 10 de janeiro, me desafiei a supor o que eu, se fosse líder desse país, faria em uma situação grave como a que vivemos.
O Brasil não aguenta mais a ausência de uma liderança comum a todo nós brasileiros. Tenho a convicção de que a maior parte de nós, destros, canhotos e ambidestros, somos do bem e radicalmente contrários a essa violência. Os bárbaros que observamos em Brasília são a exceção, a minúscula parcela do boníssimo povo brasileiro.
A extrema direita e criminosa é a ponta do iceberg de ódio e separação, que vem sendo construído por duas décadas em nossa população, pelos dois lados que nesse período dividiram o poder em nosso país.
Portanto, dada a seriedade da ocasião, a coluna de hoje trocará um artigo por um sonho. Sei que com ele corro o risco de ser compreendido como comunista ou como fascista, únicas duas possíveis características humanas no Brasil contemporâneo. Posso também ser entendido como louco, nesse caso eu concordaria e, confesso, até gostaria. Portanto, aí vai o meu sonho em forma de mensagem ao presidente da República: “seja o exemplo daquilo que pregas (Gandhi)”.
Um grande líder não deve ser medido pelo que fala, mas principalmente pela grandeza do que faz. Precisamos de uma liderança política capaz de matar no peito as crises e problemas do Brasil, parar de culpar os outros, e chamar para si a responsabilidade de trabalhar para pacificar e unir o país.
Serei direto: convide o ex-presidente Bolsonaro para uma conversa. Olho no olho. Sem culpa ou rancor, dos dois lados. O senhor é presidente da República e, portanto, entendo possuir o dever e a responsabilidade de dar o primeiro passo.
É hora de assumir que juntos criaram o veneno da divisão e das polarizações, principal matéria prima do radicalismo televisionado neste trágico dia 8 de janeiro. E que, portanto, apenas vocês, também juntos, podem entregar o antídoto para o veneno. Apesar de suas enormes diferenças, busquem construir um plano de pacificação para o país e então, também juntos, falem ao povo, para todos. Nenhuma foto traria maior esperança, e resultado prático, do que a de vocês dois juntos apertando as mãos e apontando um caminho comum.
Não necessariamente como amigos, mas como homens de Estado, que dialogam e que são capazes de se respeitar em suas enormes diferenças quando o motivo é o povo tão sofrido de nosso país. Sei que o senhor possivelmente não imagina essa possibilidade e que deva pensar que, mesmo que imaginasse, o ex-presidente não aceitaria. Pois bem, estou certo de que não preciso convencê-lo do seu carisma e boa retórica e de que possivelmente saberá encontrar um bom caminho. Precisamos acabar com essa guerra de narrativas entre os dois lados e gerar tranquilidade jurídica e institucional para que o nosso país siga democraticamente em paz. “ Você até pode pensar que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único (John Lennon)”.
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