5 de mar. de 2024

Rony Meisler
Não é nova a percepção de que contar histórias é melhor do que apenas vender produtos e é cada vez mais óbvio que empresas que criam bons projetos de conteúdos, melhor se relacionam emocionalmente com as pessoas
Eu sempre chorei assistindo a novelas, mas eu nunca havia chorado assistindo a propagandas, até o final de 2023, vendo um anúncio de Natal da Chevrolet.
Sempre achei uma bobagem a tese de que “vídeos longos não retêm atenção das pessoas”. Vídeo ruim é que não retém a atenção.
O anúncio da Chevrolet era um curta-metragem. O filme começa com um triste almoço de Natal de uma família americana, pois o Alzheimer da avó evoluiu, e ela não reconhece mais o seu companheiro de toda a vida.
E então uma de suas netas convida a avó para um passeio pela cidade em uma velha pick-up da marca que estava guardada na garagem, e, de lugar em lugar pelos quais passavam, a senhora vai se lembrando de sua história de amor com o marido, até que no ápice da emoção, ela se lembra dele e de que elas precisavam voltar para o almoço de Natal.
O filme, ops, propaganda possui 2,5 minutos, não mostra nenhum novo carro da marca, e termina com toda a família feliz e almoçando. Apenas uma chamada da montadora: Merry Christmas!
Uma aula daquilo que eu acredito ser o futuro do marketing.
Me responda sinceramente, o que prenderia mais a sua atenção: um filme como esse ou uma propaganda clássica de carros onde potência de motor, torques, aerodinâmica e outras características técnicas lhe são apresentadas?
A Chevrolet resolveu colocar o cliente no centro de tudo também na hora de comunicar e percebeu que, na nova jornada de consumo, ela não precisa gastar nem o dinheiro dela e nem o seu tempo para te explicar tecnicamente o produto.
Descobriu que se tocar o seu coração e a sua memória afetiva ela ganhará o seu “share of heart” e, por consequência, também o seu “share of wallet”. Ela só precisa dialogar contigo e tocar o seu coração, porque você já sabe fazer buscas na internet para, depois, descobrir e comprar o que quiser.
Para além da comunicação, sabendo que a jornada de consumo já está coberta por suas operações, empresas como a Chevrolet partem do óbvio princípio de que o cliente não é burro e sabe se virar sozinho.
Por isso, em minha humilde opinião, o chamado marketing de conteúdo é o futuro do marketing.
Um estudo feito nos Estados Unidos, e publicado pela revista “Super Interessante”, mostra que passamos em média 12 horas por dia consumindo informação e que lemos em média 100 mil palavras por dia, o que equivaleria a uma bíblia por semana. Em meio a tanta informação, reter a sua atenção se torna aquilo que todos os negócios desejam.
Por isso, cada vez mais, veremos empresas que investirão em times especializados em conversar com os seus clientes não apenas para que comprem seus produtos, mas com o objetivo principal de criar conteúdo relevante que os ajudem em suas jornadas de vida.
Acabou a era do “monólogo-vendedor-de-produto”. As marcas que não aprenderem a dialogar com seus clientes também através de bons projetos de conteúdo a cada vez menos reterão a sua atenção e terão chances de sobrevivência.
Se o conselho é bom, o exemplo arrasta. Listo aqui alguns exemplos de empresas e marcas que estão trabalhando bons projetos de marketing de conteúdo:
RedBull: sua Content House possui negócios como revistas, produtora audiovisual, times de futebol e escuderia de Fórmula 1.
Nike: fez do seu livro “A marca da vitória” um best-seller e do seu filme “Air” um blockbuster.
Oficina Reserva: a plataforma phygital “Limonada Reserva” conta histórias dos grandes empreendedores brasileiros através de revistas e canais digitais.
LVMH: a sua agência 22 Montaigne Entertainment possui como objetivo a conexão da história de suas marcas com a indústria do entretenimento. O documentário “Dior and I” e a série da Apple TV “The New Look” são alguns dos produtos da 22.
Mattel (Barbie) e Lego: criaram franquias e levaram suas marcas de brinquedo para o cinema.
Sou muito curioso e gosto de estudar sobre a ciência da experiência do consumidor. Aproveito esses artigos para escrever enquanto penso sobre as minhas descobertas, de maneira a compreender lógica e boa explicação para o que observo.
Não é nova a percepção de que “contar histórias é melhor do que apenas vender produtos” e é importante afirmar que esse artigo não é sobre isso e sim sobre algo muito maior. Esse artigo é sobre o fato, cada vez mais óbvio, de que as empresas que estruturalmente criarem bons projetos de conteúdo, melhor se relacionarão emocionalmente com as pessoas e não apenas venderão mais, como também criarão negócios potencialmente maiores do que os seus próprios negócios.
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